
Jargões são sinal de insegurança, não de inteligência.
Quanto mais preocupados estivermos com status, mais lugares-comuns nós usamos.
Imagine que você tem que entrevistar dois candidatos para uma vaga de trabalho e um deles salpica as frases com jargões e termos anglicistas. O outro, fala só em linguagem coloquial. O que dá para dizer desses dois potenciais colegas de trabalho só pelo jeito de falar?
A primeira impressão pode ser de enxergar o candidato com mais termos técnicos como o mais inteligente ou educado. Mas cuidado: um estudo da Columbia e da Universidade de Southern Califórnia sugere que os jargões profissionais não são sinal de competência ou sabedoria. Mais provável que seja insegurança.
Ansiedade aparente
Para descobrir o que leva as pessoas a utilizarem jargões, os co-autores Zach Brown, Eric Anicich e Adam Galinsky fizeram nove experimentos.
Um, por exemplo, pediu a alunos voluntários estudantes de MBA que apresentassem uma ideia de start-up para um pitch no qual estariam presentes concorrentes de status superior (empreendedores já estabelecidos), para outros alunos de MBA uma competição de status inferior (alunos de graduação). Os pesquisadores notaram que quanto mais ansiosos os participantes estavam com seu status relativo, mais jargões eles usavam. Outro estudo, analisando 64.000 dissertações encontrou o mesmo padrão – quanto mais baixo o status da universidade, mais jargão o autor tendia a usar.
“O que nossa pesquisa mostra é que o jargão é um sinal de status, como um carrão ou um smoking”, explicou Brown para o Inc.com
Um discurso exuberantemente técnica para exibir uma estratégia eficaz? Assim como ter um carrão esporte ou uma bolsa de marca, a linguagem sofisticada soa diferente para públicos diferentes. “Quando um palestrante se comunica usando a quantidade certa de jargões para um determinado público, o público provavelmente nem percebe que as palavras usadas são jargões!” – atenta Brown.
Se você é um contador falando para outros contadores, usar muitos termos contábeis sofisticados é apropriado. Mas quando a linguagem técnica torna sua comunicação menos clara é aí que ela passa do limite. Depois desse limite, que impacto seus ‘entregáveis chave’ terão?
Dirigir um carro esporte pode deixar algumas pessoas com inveja e outras podem pensar que você é um exibicionista fútil. Da mesma forma, usar jargão pode ser impressionante (basta perguntar a médicos e start-upers, que muitas vezes usam uma linguagem técnica para comunicar seus status). Outros públicos, no entanto, podem enxergar todos esses jargões como um sinal de ansiedade por status. Fiquem impressionadas ou irritadas, a comunicação cheia de termos hypados deixará várias pessoas confusas.
Conclusões práticas
Qual é a lição prática para POs aqui? A primeira é estarem atentos de seu próprio uso do jargão. Certifique-se de usar os termos técnicos pelos motivos certos e nos momentos certos. Os autores do estudo ainda sugerem outras lições para os líderes.
Se você suspeita que sua empresa tem um problema com discurso e tom de voz, Anicich sugere que você “faça uma auditoria de conteúdo, frases e acrônimos que são mais usados na organização. Essas palavras e frases são realmente mais claras e eficientes do que palavras ou frases alternativas? O que da para ser usado em vez disso? Certas palavras são usadas tão repetitivamente a ponto de perderem o sentido? ” Nesse caso, pode ser hora de orientar sua equipe de parar usá-los.
“Alguns recrutadores podem ser seduzidos por candidatos que usam muitos jargões”, ele avisa (inclusive IAs costumavam examinar esses currículos e selecioná-los). Portanto, esteja ciente de que, quando alguém começa a falar termos da moda em uma entrevista, não está demonstrando confiança ou conhecimento. Eles provavelmente estão mostrando sua ansiedade de status.
Você pode levar em conta a vontade deles de impressionar, mas não se iluda pensando que palavras mais rebuscadas são sinal de habilidades superiores.
Matéria inicialmente publicada na Inc.co